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Brincar em casa em tempos de Codiv 19

  • apoemasite
  • 27 de set. de 2020
  • 4 min de leitura

*Por Giovana Barbosa



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Em março de 2020, escolas públicas e privadas fecharam e suspenderam suas aulas em São Paulo, no Brasil, fazendo com que crianças de todas as idades passassem a ficar em casa com seus pais, assim como em muitos países do mundo, incluindo o Reino Unido. A quarentena tornou-se parte da rotina de todos e foi necessário haver uma adaptação à realidade completamente nova e desconhecida até então.


Alguns pais, mães e responsáveis começaram a trabalhar em casa, outros continuaram a exercer suas profissões de forma presencial e, muitos, ficaram desempregados.


O estresse e a preocupação ocasionados pela incerteza com relação ao futuro foram e são transmitidos às crianças, que sentem o clima dentro de casa. Além disso, os adultos - ganharam novas demandas, como a limpeza, o preparo da comida, assim como dar suporte aos filhos, muitas vezes em idades diferentes, com aprendizagem em aulas remotas.


Por conta dessa agenda atribulada, podem ser raros os momentos dedicados à brincadeira que, como provam os recentes estudos da neurociência, são cruciais para o desenvolvimento psicomotor e das habilidades socioemocionais na infância. Uma tarefa que muitas vezes é feita apenas pela escola.


No Brasil, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) determina que a educação infantil é parte da educação básica, constituindo sua primeira etapa e devendo ser oferecida em creches e pré-escolas com a finalidade de promover o desenvolvimento integral da criança até́ os seis anos de idade. Já as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil incentivam as instituições a promover, para além da educação formal, práticas de cuidado que envolvam uma integração entre os aspectos físicos, psicológicos, intelectuais e sociais da criança, incluindo a ludicidade e a criatividade; a brincadeira. Nos Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, é abordada a importância do brincar; a brincadeira é definida como a linguagem infantil que vincula o simbólico à realidade imediata da criança.


A BNCC (Base Nacional Comum Curricular), documento lançado no final de 2017, define seis direitos de aprendizagem e desenvolvimento para as crianças de 0 a 5 anos e 11 meses (Conviver, Brincar, Participar, Explorar, Expressar e Conhecer-se) e propõe dois eixos estruturantes para a prática pedagógica por meio de interações e brincadeiras.

Por fim e não menos importante, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) deixa claro o direito ao lazer, à diversão e a serviços que respeitem a condição peculiar da criança como ser em desenvolvimento. Como fica claro, o cenário legal no Brasil contempla a promoção do desenvolvimento da criança pela educação lúdica.

Entretanto, são muitos os desafios para além dos aspectos legais. Algumas crianças só são incentivadas ao brincar na escola no acesso à educação infantil, ou até mesmo no início da pré-escola, com cerca de quatro anos. Em seguida, passam a participar de atividades mais dirigidas, com exercícios repetidos de discriminação visual, motora e auditiva por meio do uso de brinquedos, desenhos e músicas, bloqueando a possibilidade organizacional dela diante da brincadeira e perdendo tempo de acesso à criatividade e ao brincar livre, onde está o maior potencial para seu aprendizado sob as mais diversas formas.

Isso pode acontecer por diversos motivos: a falta de consciência da importância do brincar, a falta de conhecimento do processo de desenvolvimento das crianças ou por ausência do tema do Brincar no processo de formação dos professores de educação infantil.

Mesmo em famílias estruturadas social e economicamente podemos observar que a ansiedade de pais que querem ver seus filhos como pessoas de sucesso é grande, lembrando que o sucesso está atrelado à ideia de que a escola tende a ser vista como um local da educação formal por excelência, não deixando espaço para atividades livres, como o brincar. De um lado, tem-se o universo da brincadeira e, de outro, o universo do estudo, do trabalho, da seriedade, ressaltando a dicotomia se estuda ou se brinca, raramente considerando a interação das duas atividades como sendo de vital importância para as crianças.

Este mundo existiu com estas marcas até o início de março, quando a pandemia invadiu as vidas de todos. Com as crianças em casa, fica evidente que elas nunca param de brincar. Em meio a um cenário global que impõe novas reflexões e formas de ser e estar no mundo, elas continuam seu processo natural de desenvolvimento através da brincadeira.


Para os adultos que vivem e convivem com crianças é preciso prestar atenção nisso, neste universo encantado que precisa ser protegido e alimentado.


A fim de incentivar famílias e cuidadores nesse sentido deste cenário, a Aliança pela Infância no Brasil – Movimento que existe desde 2001 – manteve a tradicional Semana Mundial do Brincar a fim de dar voz a esse tema crucial para as crianças. Adaptada às atuais condições, desta vez não há convocação para grandes ou pequenos eventos coletivos, mas o fomento à brincadeira dentro de casa, com segurança e afeto.


Como sairemos disso tudo? Quais as marcas que este período desafiador deixará impressas nas crianças? E, principalmente, como podemos reduzir os danos e favorecer o amor e o cuidado para com elas? Perguntas que não querem calar...



 
 
 

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